DUPLA IDENTIDADE, HÁ CONTROVÉRSIAS: Exposição Coletiva

1 November - 31 December 2020
Overview

GEMEOS: DUPLA IDENTIDADE

 

Leonard Brizola e Breno Barbosa são do signo de gêmeos. Assentaram ao mesmo tempo no banco de uma escola de artes e se tornaram amigos. Não sei se o zigoto cósmico conspirou a favor dessa exposição e se eles são univitelinos ou bivitelinos. Porém, garanto, seus olhares partem e apontam de uma mesma placenta, cuja visão de mundo traz consigo a transformação da realidade. E esse mundo da imaginação torna-se o seu (nosso) mundo da eternidade. A visão do mundo que os trabalhos de Breno e Léo registram, são representações de um eterno: a realidade crua. Porém a linha de seus trabalhos constrói e destrói essa realidade e cores iluminam e anoitecem suas obras. Essa renovação natural da realidade tem como princípio suas escatologias visionárias, que evocam sentimentos de esperança, dor e ameaçam nosso espírito de espectador.

 

Mesmo com grandes diferenças, esses dois artistas se igualam. Seja através do traço miúdo ou em grandes gestuais, seja gritando ou mudos, nas minúcias, no capricho, na criação de paisagens promissoras do fantástico e de perigosas incursões pelos simbolismos indecifráveis. Eles, sem dúvida, estão à cata de uma poética em suas obras, que nos é transmitida como uma sentença de deuses. Algumas imagens anunciam profecias, outras uma visão de nosso tempo agora.

 

Se as figuras de Léo apresentam quietude, ante uma hibernação enigmática e parecerem alheias e mudas, as imagens de Breno apresentam-se inquietas, demoníacas, de humor entorpecido, imersas na sua negridão sufocante. Porém, ambas são adivinhadoras dos tempos, aderindo ao nosso espírito como selos do destino. Esses trabalhos se encontram em suas origens e por isso se fazem gêmeos através de desejos febris de conhecimentos e de sugestões de signo. E, como num crescendo, suas realidades tornam- se mágicas, ritualizadas a caminho da memória, através do grande jogo das metáforas, onde a busca é um eterno perder-se e reencontrar- se; onde a consciência e subconsciência falam língua própria. Os artistas habitam numa realidade insidiosa, onde Eros e Thanatos (Léo e Breno?) vivem os momentos de uma possível

reconciliação.

A arte de Breno e Léo é a consumação visual do indizível. Nasce num sistema de tensões, de um sortilégio e possuem a precisão de um joalheiro. A dupla possui o dom de manejar as imagens de modo a fazê-las render o máximo de sugestões, de

insinuações, de expressões, de relevo.

 

O que ressalta de imediato nas suas obras é a correlação entre os temas, as imagens e o ritmo estabelecido em harmoniosas estruturas. Os artistas são possuidores de minuciosos conhecimentos técnicos, não improvisam, nem se deixam levar pela simples emoção. Ao contrário: condicionam sua arte, em depuração subjetiva. Para eles o essencial é o timbre exato das sensações, o tom velado, a cor esbatida, a discrição, o traço, a forma e o absurdo, que pertencem à própria essência das suas obras.

 

Dizem que espelho partido tem muito mais luas, então tenho o privilégio do convívio com esses dois grandes artistas e, assim, poder tornar o meu mundo mais cheio de grilos e de estrelas.

 

Miguel Gontijo

artista plástico, março de 2020

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